segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Era mesmo isto, pá!

(Há já algum tempo que sinto isto... mas as palavras nunca chegavam para contar o que me ia na alma, tal era o turbilhão de sentimentos. Um dia ao abrir o e-mail descobri uma mensagem com o título: "Crise de los veinte tantos anõs" (sim estava em espanhol e tive que traduzir). Olhei para o remetente: Adriana - a minha grande amiga, aquela pessoa que me conhece como ninguém, que mesmo à distância sabe o meu estado de espírito, como dizem os americanos "a minha pessoa" -. Decidi abrir o e-mail. E lá estava tudo o que queria dizer. Resumidamente, como é óbvio. Mas é isto: as mudanças, as incertezas, os medos... Uma crise... parece que conhecida como a Crise do quarto de vida.)


Crise dos vinte e tal anos…Chamam-lhe a crise do quarto de vida.
Começas a sentir-te inseguro e a perguntar-te onde é que estarás daqui a um ano ou dois e quando reparas que apenas tens noção do sítio onde estás agora entras em pânico.
Começas a dar conta que há imensas coisas sobre ti mesmo que não sabias e nem sequer gostas delas.
Começas a aperceber-te que o teu círculo de amigos está cada vez mais pequeno.
Começas a ter mais dificuldade em combinar coisas com os teus amigos de sempre e, cada vez mais, ir beber uma “jolita” é a desculpa ideal para por a conversa em dia.
As multidões já não são tão divertidas e, por vezes, até te incomodam.
Tens saudades dos tempos de escola e de socializar com os grupos que tinhas então. Contudo, já percebes que enquanto alguns eram amigos de verdade, outros não eram assim tão especiais quanto isso.
Começas a perceber que há muitas pessoas egoístas e que se calhar muitos dos que consideravas próximos não são propriamente as melhores pessoas que conheceste, e que muitas pessoas com as quais havias perdido contacto ao longo do tempo se tornaram pessoas importantes para ti.
Agora ris-te com mais vontade, choras com menos lágrimas e com mais dor.
Quando sofres um desgosto de amor perguntas-te como pudeste amar tanto uma pessoa que te fez tanto mal. Ou talvez, todas as noites te deites na esperança de encontrar alguém que realmente valha a pena.
De repente parece que todas as pessoas que conheces namoram há anos e muitos dos teus amigos começam a dar o nó. Também podes estar a amar alguém de verdade e simplesmente não tens a certeza se estás preparado para dar um passo tão definitivo
Agora atravessas as mesmas emoções uma e outra vez e falas com os teus amigos sobre os mesmos assuntos até a exaustão porque precisas de mais tempo para tomar uma decisão.
Os engates e as curtes de uma noite já não fazem sentido e embebedar-te e fazer figuras tristes começa a parecer-te realmente estúpido.
Sair três vezes por fim-de-semana é desgastante e implica gastar muito dinheiro para o teu pequeno ordenado.
Olhas para o teu trabalho e pensas que talvez não estejas, nem por sombras, perto do que imaginaste para ti. Mas procurar um novo trabalho implica ter que começar desde o zero e isso assusta-te.
Tentas diariamente entender-te a ti mesmo e fazes um esforço para perceber o que queres.
As tuas opiniões estão mais estruturadas.
Observas os outros e encontras-te a ti mesmo.
Às vezes, sentes-te genial e invencível… outras sozinho, com medo e confuso.
De repente procuras o teu passado, mas percebes que o passado está cada vez mais longe e por isso não há outra opção que não seja ir avançando.
Preocupas-te mais com o futuro.

Todos nós, que temos vinte e tal anos, já pensámos pelo menos uma vez que gostaríamos de voltar aos 17/18.

Vinte e tal anos é um lugar instável, uma estrada com trânsito, mas todos (sim todos) os que por cá já passaram dizem tratar-se da melhor época das nossas vidas. Por isso não podemos desperdiçá-la por causa dos nossos medos.

Parece ter sido ontem que tivemos 18… o tempo voa. Não tarda estaremos nos 30. Há que aproveitar. Façamos valer o nosso tempo. Afinal, a vida não se mede pelos momentos em que respiramos, senão por aqueles em que nos tiram a respiração.


Efectivamente a tentar descobrir-me.
Afectivamente a descobrir-te pouco a pouco.

3 comentários:

Lua disse...

Aos 30 isso passa...
Aos 40... dizem que ainda é melhor!
Bjs desta 'trintona' que te adora!

Sophia disse...

25 anos...Como representante dos que por lá já passaram, é de facto a melhor época das nossas vidas. Não a desperdices.
O que me preocupa é que, depois de ler o post, cheguei à conclusão que, aos 33 anos, ainda tenho muitos sintomas dessa crise! Pode ser que mais uns anos, e isto passe!;)

Freckles disse...

Compreendo TUDO tão bemmmmm... Leio este post e tenho vontade de fazer um 'testamento' sobre o que penso da vida neste preciso momento, à beira dos 26...
O círculo de amigos é cada vez mais restrito mas, ao mesmo tempo, mais seleccionado. Hoje em dia só chamo 'amigo' a quem o é de facto. Existe pelo menos uma pessoa que reencontrei depois de anos de inexplicável, ou talvez infantil, ódio mútuo e que hoje é das minhas maiores amigas. E quantos, e quanto, considerei como tal durante anos e com os quais, hoje, que as vidas seguiram caminhos diferentes, já não sinto ligação? Tantos e tantas...
Rimo-nos com mais vontade e, sobretudo, com mais segurança. Somos 'mais nós' que aos imaturos 18 anos. A vida segue e, claro, também sofremos mais porque deixamos de ser protegidos do mal e choramos, de verdadeira dor, por coisas 'mais a sério'.
Já não gostamos de multidões, claro, porque nos sentimos melhor no aconchegante 'circulo reservado', dos 'seguros', dos 'garantidos'. Temos mais medo de sofrer e já não nos atiramos de cabeça.
Temos mais medos porque, no fundo, conhecemos melhor a instabilidade da vida a todos os níveis.
Lembro-me, com 17, de ver os meus pais e pensar que estranho que era saltitarem de amizades quase anualmente... Descobri, há poucos anos o motivo e conformei-me: Haverá sempre pessoas de quem foste amiga, quase irmã, pessoas que marcaram a tua existência mas que, com o passar do tempo e com o acumular de diferentes experiências de vida, se afastarão inevitavelmente... Haverá outras que conhecerás com 30 ou 40 e que vão estar contigo até à morte. Acredito, piamente, que existem tempos para as relações. Acredito que a mesma relação, com a mesma pessoa, pode não funcionar agora mas voltar a resultar daqui a 10 anos.
Resta-nos a tranquilidade da resignação daquilo que não podemos mudar...
Cada vez gosto mais de ti;)