terça-feira, 25 de maio de 2010

O teu regresso...

Nunca pensei dizer isto... mas, aproximar-me de ti dói tanto.
Notar que voltaste... custa. Saber que precisas de um ombro... magoa. Sentir-me incapaz de te abraçar... fere.

Tu, que sempre foste como respirar para mim. Tu, que foste uma fuga numa rua sem saída. Tu, que eras luz no final de um túnel que ninguém teve coragem de atravessar.
Tu, um escape entre olhares noctívagos. Tu, que sempre foste sorrisos em forma de música, que sempre foste gelo numa bebida quente. Tu, que me habituaste a poesias, que me abriste a janela do mundo, que me mostraste o que está por detrás daquela montanha. Tu, que deste sabor à melancolia, que cobriste de melodia os meus silêncios. Tu, que me descobriste na escuridão. Tu, que trouxeste gargalhadas a lágrimas antigas. Tu, que me ensinaste a viver os sonhos, que me empurraste para a vida, que me ajudaste à arriscar, que me desvendaste dilemas.
Tu, que me mostraste através de contas de somar a simplicidade, que me multiplicaste os sentidos, que subtraíste a solidão da minha alma, que dividiste comigo o teu coração.
Tu, que guardaste contigo estrelas partilhadas. Tu, que cantaste madrugadas inesquecíveis. Tu, que brindaste o destino impresvisto.
Tu, Verão tórrido, Outono ameno, Inverno feroz, Primavera regada.
Tu, Peter Pan da minha história. Tu, que foste Che Guevara da tua história.
Tu, liberdade acorrentada, água parada, turbilhão sereno.
Tu, cama desfeita, banho de espuma, espelho vazio.
Tu, persiana descida, janela aberta. Tu, porta fechada, varanda para o mar.
Tu, bandeira hasteada, toalha estendida, lençol engelhado.
Tu, filme de acção, livro triste, canção pronunciada.
Tu, sal, açúcar, pimenta.
Tu, vermelho, azul, branco, verde esperança.
Tu, problema. Tu, solução. Tu, cofre forte. Tu, código de acesso.
Tu, ausência, glória, timidez, convicção, culpa, desespero, integridade, velocidade. Tu, manhã. Tu, noite.


Tu, que seguias sem medo. Tu, que enfrentavas o mal. Tu, que não tinhas heróis. Tu, que emanavas magia. Tu, que trazias brilho no olhar. Tu, que transformavas caminhos. Tu, que cruzavas fronteiras... sem nunca olhar para trás.

Tu, o louco, o feliz, o amante silencioso, o destemido, o bravo. Tu, o vulcão, a trovoada, a chuva, o vento. Tu, o sol, a brisa, o calor. Tu, o céu, o limite, o desejo. Tu, o doce, o tranquilo, o sensato. Tu, a paz, a calma, a tranquilidade, a luz, a presença, a paciência. Tu, o fogo, a folia, a ira, a revolta, . Tu, o amor na sua forma mais pura.

Tu, um mundo infinito de convicções minhas. Tu, um mar de certezas naufragadas. Tu a ilusão de uma fogueira de cinzas. Tu, um horizonte sem estrada. Tu, a verdade incompleta.

E eu? Eu, o vazio depois da tua estadia. Eu, o recomeço depois da tempestade. Eu, a incerteza na tua saudade. Eu, a dúvida magoada no teu regresso.

Porque é que voltaste? Porque é que eu não sou capaz de estar aí quando precisas? Logo para ti? Logo tu, que já foste tudo...

Efectivamente tu...
Afectivamente desculpa

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