domingo, 23 de maio de 2010

Mãos estendidas...

Vieste no fim do verão, bronzeado, sorridente, de óculos escuros, para que não te pudesse ler a alma... pensei...
Chegaste tranquilo e com uma timidez aparente... Demoraste a reconhecer-me, tardaste em dar-te a conhecer... E de repente, como uma flecha, ao cair da noite, caminhaste na minha direcção. Sem medos, certo, sem questões, feliz, sem pensar, completo. Soltaste palavras, despiste a alma, até então escondida atrás de uns óculos de sol, entretanto deixados para trás... pelo envolvimento do coração, pelo desejo do corpo e, propuseste o impensável. Mas como poderíamos deixar para trás a vida que tanto demoramos a construir? Mudaríamos tudo essa noite, eu sei... Mas e o amanhã? Nunca saberemos, agora. Arriscar nunca foi o meu forte, mesmo que já me tenha arrependido 1001 vez de não o ter feito. Estendeste as mãos ao desconhecido pretendedo encontrar as minhas. Mas no vazio do tempo e da falta de preparação aparente, eu não tinha nada a oferecer e arrependo-me tanto agora... Trago-te no peito desde então e estendo tantas vezes as mãos à espera de encontrar as tuas, no desejo de que ainda as tenhas preparadas para mudar a vida que tanto demoramos a construir. Pois de que vale uma vida cheia se não tens no vazio mãos que possas agarrar?
Chegaste no fim do verão, vieste na minha direcção ao cair da noite, despiste a alma e estendeste as mãos certo de que ali havia algo mais... E havia! Senão não escreveria sobre ti, sobre nós, tanto tempo depois... Uma vez mais, o medo trouxe-me o sabor amargo da despedida, agora sei-o, antecipada... E dói pensar que estavas aí de alma despida para mim. Quantas vezes na vida encontramos alguém pronto a mudar tudo por nós? Atrás do vestido da cor da tua gravata ficou um murmúrio de palavras que queriam sair mas não encontraram saída. Atrás dos sorrisos, dos beijos, dos olhares, da música, da felicidade dos muitos presentes que celebravam o amor, ficaram duas almas, uma despida e a outra a nu, por não ter tido a coragem de amar, sem mais. Hoje, com o aproximar do verão, recordo as tuas mãos bronzeadas estendidas na minha direcção e penalizo-me por não te ter dado mais do que uma dança... quando sinto que te poderia ter dado o meu coração. Saber que o tempo não cura tudo, faz-me estender-te as mãos... e sei que não sabes que estou de alma despedida e com a coragem de amar, pois na distância tudo esmorece, menos o meu amor por ti.

Efectivamente de mãos estendidas
Afectivamente à procura de encontrar as tuas

Sem comentários: