domingo, 9 de maio de 2010

Assalto à mão armada

Subia uma rua íngreme, mas ao contrário de outros tempos, a respiração estava controlada... tenho andado em boa forma física... Subia sem olhar para trás, as minhas amigas sempre me disseram que era demasiado destemida, mas eu nunca achei que houvesse algo a temer... Subia com o passo apressado, mas sem receio que me seguissem, pois não levava comigo nada de valor, tudo tinha sido deixado para trás... Subia decidida, ainda que não sabia onde me levava aquele caminho, mas estar no memso sítio já não fazia sentido. Essa rua íngrime tinha várias perpendiculares mas eu não ía hesitante, apesar de não saber o caminho, não tinha dúvidas que deveria seguir em frente. Senti uma brisa estranha, passou-me uma ideia má pela cabeça, mas os pensamentos levaram-na para longe. De repente surgiram no caminho três homens. Não senti medo. Apesar de estarem de cada tapada os gestos não permitiam confusões. Conhecia-os bem. Vinham do passado. Falavam todos ao mesmo tempo. Dois deles cobravam coisas: ausências, datas. O outro pretendia esclarecer algo que há muito tempo tinha acontecido, mas nem ele se lembrava muito bem do que era. Facilmente os identifiquei. Não tinha respostas, apenas pressa. Tentei respoder, mas não pareciam satisfeitos com as justificações. Avancei. Corri. Não por medo, não eram agressivos, estavam apenas defraudados, não comigo, com eles própios. Não me seguiram. E eu continuei. Respiração controlada, sem olhar para trás, passo apressado, decidida... mesmo sem saber onde me levava o caminho. Cheguei a um sítio que me parecia familiar e parei. Mas rapidamente me apercebi que tinha de continuar. Assim fiz! E de repente surgiu outro homem. Cara destapada. Não tinha nada para me dizer. Mas o seu olhar triste impediu-me de prosseguir e roubou-me palavras que não podem voltar. Foi um assalto à mão armada. Esses olhos eram a arma pronta a disparar lágrimas e eu não sou indiferente à tristeza, muito menos à desse homem do passado, que me impedia continuar o caminho... apesar de não me ter dito nada, apesar de não me cobrar nada, apesar de não ter nada para esclarecer. Foi uma assalto ao meu coração que ficou ali, no meio do caminho.

Porquê é que o passado volta, na sua forma mais triste, para me atormentar? Porquê logo agora que seguia firme por essa rua íngrime? Que significado tem este assalto à mão armada? Será possível que um caminho em frente me leve ao passado?

Efectivamente tens aí o meu coração.
Afectivamente agora tu, mas depois eu.

(Tal como te disse, estou aqui para quando precisares. Gostava de te poder abraçar e que o meu carinho, como tu lhe chamaste, te curasse. Tenho-te presente na esperança de secar-te as lágrimas, de coser-te as feridas, de aconchegar-te a alma e devolver-te o sorriso. Podes mesmo crer que cada noite me transformo nessa estrela que te faz companhia. Amanhã e até que tu estejas bem voltarei em forma de luz.)

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