terça-feira, 10 de março de 2009

No meu castelo

Construí um castelo, de muralhas altas e janelas minúsculas...
Coloquei-me entre as ameias da torre mais alta... vigiando as redondezas.
Longe dos perigos, atenta aos inimigos, cautelosa nos movimentos.
Não dormia com receio de perder a noção do tempo, angustiada com eventuais aproximações, amedrontada com ruídos estranhos.
Com o passar do tempo, o cansaço apoderou-se de mim... perdi a consciência das horas, desleixei a guarda, deixei de temer.
Ausentei-me de mim... e não percebi que chegavas...
Sem notar fui cedendo, baixei a guarda... desci a ponte levadiça, perra, enferrujada...
Entraste confiante, sem perceber o que ias encontrar... pressagiando descobrir um tesouro bem guardado.
Destemida, desoriantada... enfrentei-me ao desconhecido. Desacostumada à armadura, lutei contra o vazio... contra um cavaleiro sem espada. Numa batalha que nunca existiu. Destruí as minhas maiores conquistas... e perdi uma guerra em que nada havia a ganhar. Uma derrota inglória de uma guerreira valente...
Recolhi as armas, rendi-me às evidências... subi à torre, gritei clemência...

Vencida, de orgulho ferido, concedi o meu reino... um castelo de sonhos, muralhas altas e janelas minúsculas... onde só um aventureiro audaz se atreveria a entrar.

Podias ter partido... (talvez o tenhas feito).
Mas nem reparei.
As princesas não perdem a pose (mesmo quando perdem batalhas).

Efectivamente presa no meu castelo
Afectivamente orgulhosa

2 comentários:

Freckles disse...

Texto extraordinário.
Porém, um conselho amiga: se saíres da muralha protegida, podes até apanhar um 'escaldão' com a força dos raios de luz; mas se nunca desceres da torre, também nunca verás o sol;)
Mesmo com um pouco de sofrimento às vezes, a vida é para ser vivida.
Aproveita!

Rosa disse...

Sairás quando estiveres pronta. E só tu é que sabes quando isso é.